terça-feira, 29 de março de 2011

Poetizando o Apocalipse

Pablo Neruda

Pablo Neruda, nascido e falecido no Chile (1904-1973), foi uma das vozes mais altas da poesia mundial do nosso tempo. Sintetizou a consciência política, o lirismo romântico e um profundo domínio da linguagem poética. Admirado internacionalmente, recebeu em 1971 a máxima  horária literária: o Prémio Nobel de Literatura. Entre as sua principais obras, estão: Cem sonetos de amor, Últimos poemas, Canto geral e Confesso que vivi. (Livro das Perguntas - L&PM -2004/2008)

XXXVI

Não será por fim a morte
uma cozinha interminável?

Que farão teus ossos desagregados,
buscarão oura vez tua forma?

Se fundirá tua destruição
em outra forma  e em outra luz?

Formarão parte teus vermes
de cães ou de borboletas?

XXXIV

Com as virtudes que olvidei
posso fazer um traje novo?

Por que os melhores rios
foram correr na França?

Por que não amanhece na Bolívia
desde a noite de Guevara?

E busca ali os assassinos
seu coração assassinado?

Tem primeiro gosto a lágrimas
as uvas negras do deserto?